Um grande diretor é capaz de fazer muito com pouco e acho que Ridley Scott conseguiu nesse filme. Não é só pela história e diálogos que se faz um filme, mas também pela fotografia, condução e montagem do mesmo, e é aqui que reside sua virtude. O diretor faz um belo contraponto entre o visual etéreo, monocromático, artificial do trabalho do personagem - um ambiente acelerado num cenário de designs modernos, corporativos, descartáveis e sem grandes contrastes - e o vinhedo francês que é quente, cheio de cores, cheiros, comidas de sabores distintos, com iluminação viva, tudo num ambiente contemplativo no qual cada canto, cada móvel tem sua história.
É o ponto alto do filme, pois mesmo sem se estar lá para comer, beber ou sentir os cheiros e o clima, é possível absorver isso tudo só assistindo. É o motivo de eu achar filme uma delícia. E o modo como são montadas as lembranças contidas na memória afetiva do personagem por meio de aromas, visões e sensações ajuda a dar um clima caloroso e aconchegante à película. Além das belas mulheres, claro.
São significativas duas seqüências: quando Francis Duflot (Didier Bourdon) diz que Henry afirmara que o sobrinho não era mais confiável porque havia perdido a capacidade de apreciar os pequenos prazeres da vida. E a da reunião final de Max com seu chefe, que se gaba de ter um Cézanne original, mas que fica guardado em seu cofre. O personagem de Crowe pergunta: “Quando você vê o quadro original”? O velho e infinito conflito "ter x ser".
Ainda que não seja um filme genial e tenha falhas, é despretensioso, toca em pontos interessantes e expressa muito bem uma gama diversa de sensações via imagens. Repito: já é um dos meus preferidos. É uma delícia.
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