sábado, 15 de dezembro de 2007

Um Bom Ano - Ridley Scott


Assiti "Um Bom Ano", de Ridley Scott, no começo de 2007 e revi novamente agora na TV. Não é um filme de roteiro ou enredo. Tem uma história batidíssima: um homem ambicioso (Max Skinner – Russel Crowe), arrogante, anti-ético e que não confia em ninguém trabalha no mercado financeiro de Londres ganhando milhões de Libras. Pelo falecimento de seu tio Henry (Albert Finney) tem de voltar a um lugar paradisíaco no qual passou grandes momentos de sua infância e lá reflete sobre seus valores encontra o amor de sua vida, uma bela moça que também tem problemas de confiança. Ambos enfrentam o problema de terem estilos de vida completamente diferentes. O final é obviamente feliz, num desfecho clichê, um dos mais babacas, rasos e sentimentalóides que já vi. Ainda assim, já entra na lista dos meus filmes preferidos.


Um grande diretor é capaz de fazer muito com pouco e acho que Ridley Scott conseguiu nesse filme. Não é só pela história e diálogos que se faz um filme, mas também pela fotografia, condução e montagem do mesmo, e é aqui que reside sua virtude. O diretor faz um belo contraponto entre o visual etéreo, monocromático, artificial do trabalho do personagem - um ambiente acelerado num cenário de designs modernos, corporativos, descartáveis e sem grandes contrastes - e o vinhedo francês que é quente, cheio de cores, cheiros, comidas de sabores distintos, com iluminação viva, tudo num ambiente contemplativo no qual cada canto, cada móvel tem sua história.

É o ponto alto do filme, pois mesmo sem se estar lá para comer, beber ou sentir os cheiros e o clima, é possível absorver isso tudo só assistindo. É o motivo de eu achar filme uma delícia. E o modo como são montadas as lembranças contidas na memória afetiva do personagem por meio de aromas, visões e sensações ajuda a dar um clima caloroso e aconchegante à película. Além das belas mulheres, claro.

São significativas duas seqüências: quando Francis Duflot (Didier Bourdon) diz que Henry afirmara que o sobrinho não era mais confiável porque havia perdido a capacidade de apreciar os pequenos prazeres da vida. E a da reunião final de Max com seu chefe, que se gaba de ter um Cézanne original, mas que fica guardado em seu cofre. O personagem de Crowe pergunta: “Quando você vê o quadro original”? O velho e infinito conflito "ter x ser".

Ainda que não seja um filme genial e tenha falhas, é despretensioso, toca em pontos interessantes e expressa muito bem uma gama diversa de sensações via imagens. Repito: já é um dos meus preferidos. É uma delícia.


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