segunda-feira, 30 de julho de 2007

Ah, esses franceses


Medos privados em lugares públicos é um belo filme. Não é excepcional, mas toca no ponto certo, é sensível. Mostra como somos solitários, frágeis e falíveis, apesar do que aparentamos - ou do que queremos aparentar. Mesmo com um roteiro não muito original - diversos personagens que se interligam de alguma forma, mas não necessariamente se conhecem - consegue passar muitas sutilezas. Ainda que jogada da fita de vídeo seja bem engraçada, o filme é uma expressão da melancolia.

Vôlei, a prova



O vôlei masculino do Brasil é a prova de que os conceitos do post abaixo podem ser realizados. Como no futebol, também tem a maioria dos craques fora do Brasil, mas tem um calendário um pouco melhor, que, se também é apertado, ao menos proporciona a construção e treinamento de um time.

Essa seleção conseguiu a tal união de arte e tática; Bernardinho soube aproveitar o que de melhor há em seus jogadores, a rapidez e técnica, e conseguiu amenizar os pontos fracos, como a altura e tradição de fraqueza tática mudando a forma de jogo e treinando muito. Assim, criou uma escola: um vôlei absurdamente veloz, com grande variação de jogadas, que começa a ser imitado. Que o futebol se espelhe nisso.

Criatividade versus Objetividade?


Tudo bem. O Pan não é um Mundial de Futsal e a Argentina nem de longe é uma Espanha. Mas continua sendo muito bom ver o Falcão jogar. Ele atingiu uma maturidade impressionante e cada vez mais prova que é, sim, possível unir criatividade e objetividade, futebol-arte e aplicação tática. Usando o contexto do futebol, nem estão 100% certos os Dungas da vida, que dizem que o futebol de hoje é competição e marcação - que o resultado é que importa, nem os saudosistas que dizem que a seleção de 82 é a síntese do futebol, que a arte é que importa. O Brasil precisa criar sua própria e nova escola, que possa unir essas duas vertentes. Mas com os craques fora do Brasil e total anti-profissionalismo aqui, fica difícil. E o pior de tudo, o Futsal caminha na mesma trilha.

Vexame?!?



Quando a seleção sub-17 foi eliminada do Pan muita gente disse ser um vexame, vergonha, "timinho". Agora entra na lista do UOL como um dos 5 maiores "papelões". Muito exageradas essas reações.

A regra do futebol masculino no Pan era: jogadores até 20 anos, mais 3 acima dessa idade. Por coincidir com o mundial sub-20, o Brasil optou (assim como a Argentina) por mandar a seleção sub-17. E por mais talentosos que os jogadores fossem - e não são tanto assim, por mais chances que tivessem de conquistar o ouro, encontrariam grande dificuldade ao encontrar garotos de 20 anos. E foi o que aconteceu. O atacante equatoriano Zura, de 24 anos, parecia um gigante perto dos brasileiros e fez a diferença. E, afinal, o Equador acabou campeão.

Nomear a atuação da seleçãozinha de vexame e jogar carga desproporcional de pressão é um pouco demais para garotos de 17 anos.

terça-feira, 24 de julho de 2007

No Limite

caricatura de Mario Alberto (também em blog)

Dificilmente saberemos o que realmente aconteceu entre Bernardinho e Ricardinho. Toda história tem ao menos duas “verdades”. Pelo pouco que foi possível tirar de declarações de ambos, é bem provável que tenha ocorrido um “arranca-rabo” daqueles, aliado a um real desgaste de convivência. Bernardinho pode ter visto em Ricardinho uma liderança negativa, que poderia prejudicar o grupo. Ou pode ter sido uma crise de ego do técnico. Ou de estrelismo do jogador. Ou tudo isso. Ou nada disso. São muitos ou, ou, ou, e se, se, se – pura especulação. Claro que não foi muito bonito o modo como foi feito o corte, mas não imagino que teria sido melhor por telefone.

O mais incrível é a forma como certa parte da imprensa esportiva tratou isso. De repente Bernardinho virou mau-caráter. Uma atuação apenas regular contra o Canadá sucitou teorias. Cheguei a ler que o time, nesse jogo, não “sorriu” em quadra, o que apontaria problemas. Ou que uma atuação abaixo da média de Giba fosse a prova cabal de que sentia falta de Ricardinho em quadra. Ou que Bernardinho não é nada disso. Quando, na verdade, o mais provável dessa atuação não tão boa fosse a “ressaca” do título da Liga Mundial, cansaço de viagem, nervosismo de 1º jogo, uma certa “preguiça” de jogar contra um time um pouco mais fraco e, claro, desentrosamento com um levantador que, se não é novo, não é o usual. Nada como um dia após o outro. A seleção venceu Cuba brilhantemente, focada, com garra – e atuação brilhante de Giba. Bastaram alguns acertos – antes do jogo, aumentando a velocidade da distribuição de jogadas e durante acertando a defesa – para o time deslanchar. Nem tanto ao céu nem tanto à terra. Bernardinho não é burro pelo jogo contra o Canadá nem gênio pelo resultado contra Cuba, nem há garantias de que o Brasil seja campeão com tranquilidade. É autoritário, com todas as virtudes e defeitos que isso trás. Seu curriculum prova que, até hoje, isso tem dado resultado.

Mas acho incrível a infantilidade da imprensa esportiva brasileira. Bernardinho foi de besta a bestial em poucos dias. Era gênio, ótimo caráter, e passou para burro mau caráter num piscar de olhos. Menos, gente, menos. Tem seus prós e seus contras. Espero que essa parte da imprensa (não todos, claro) pare de esmagar fatos para tentar encaixar numa tese e procure analisar todos os fatores envolvidos, com senso crítico, não com opinião exaltada de boteco. É pedir muito?


domingo, 15 de julho de 2007

Don't cry for us Argentina...



Mais uma goleada. Do time brasileiro não há muito o que falar, é o Dunga em campo: limitado, porém esforçado. Mas dá pra falar da Argentina: foi, novamente, superestimada pela imprensa esportiva brasileira. Seu esquema tático é uma versão piorada do pior do Parreira: tocar a bola até achar uma brecha e viver de lampejos de Riquelme e Messi. Quando eles são anulados, vira um time medíocre, burocrático. Muitos equivocados disseram que era o futebol mais bonito da Copa América, chegaram até a falar em futebol-arte - muito mais pelos golaços do que pelo jogo em si. E eles que me desculpem, mas um time com 3 volantes e um zagueiro jogando na lateral esquerda nunca pode chegar a futebol-arte.

Scoop




Scoop é mais uma prova de que um Woody Allen médio ainda é acima da média e é sempre inteligente. Não há novidades em seus filmes (a crítica adorou Match Point, eu achei fraco) e em Scoop há até repetição: como em Escorpião de Jade há o mágico (e até no nome falso ou Scarlett Johansson cria, Jade), como em recentes filmes de Allen a obsessão pelo tema de um "zé mané" tentando entrar num universo elitizado (como em Trapaceiros e Match Point), os personagens interpretados por Allen são sempre obsessivos.

No filme o diretor volta a atuar e está hilário; os diálogos estão afiados com sacadas inteligentes. No filme há uma boa observação: a personagem da nova musa de Woody Allen, Scarlett Johansson, durante uma investigação, é envolvida e se apaixona por um assassino, mas custa a acreditar que ele é, de fato, culpado: como pode um homem tão fino, educado, da alta sociedade cometer um crime frio e premeditado? Ela tenta se auto-enganar, dizendo que as provas não são suficientes. Mas a verdade é que a aparência, o status dele é que a faz esquecer a culpa, e não os fatos. Bela observação da sociedade. Ponto para Allen, sempre preferindo a inteligência, mesmo quando não faz o seu melhor.

terça-feira, 10 de julho de 2007

Zodíaco


Tipo de filme que gosto. Toda cena é importante e filmada com cuidado; os detalhes são tão vitais quanto o todo. É um filme “completo”: grande direção, fotografia, roteiro, texto, atuações marcantes. Não é um filme, digamos, para todos, pois é longo e lento – é preciso gostar disso, ou ao menos não ter restrições quanto a isso. É menos um filme sobre assassinatos em série e mais um filme sobre a obsessão de quem se deixou levar pela busca ao assassino; passa ao espectador a angústia de quem se envolveu – ou quis se envolver – no caso do assassinato em série, que não foi resolvido até hoje.

O diretor David Fincher – de Seven – realmente sabe como criar um clima!

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Tudo por uma bunda



Assisti "O Cheiro do Ralo". Achei interessante a ridicularização da ganância, do dinheiro e de símbolos de status e poder. O personagem do Selton Mello é – perdoem a palavra – um bosta, obcecado por coisas materiais (toscas), que vive de comprar quinquilharias, explorando desesperados. E se acha o máximo por isso – me lembrou de muita gente que não quer ser, mas mostrar: seja uma casa, um carro, um emprego ou um filho.

Tem, claro, umas 2 cenas de gente pelada e uma de sexo, sendo, então, mais um representante da “Peladice do Cinema Brasileiro”, ou “Pornochanchada Cult”.

Assistir quase em seqüência três filmes nacionais (este e mais “Baixio da Bestas” e “Cão Sem Dono”) me fez perceber algo. O que me incomoda um pouco nos filmes brasileiros – acho que sempre falta alguma coisa, a constância em apresentar atores desconhecidos ou quase amadores, uma certa precariedade técnica (ainda...), é, de certa forma, uma virtude: os diretores, sabendo que dependem de patrocínio (quase sempre da Petrobras) parecem estar revendo (talvez forçosamente) algumas de suas convicções e abraçando essa dificuldade de verba, buscando uma “estética” que esteja adaptada a um orçamento escasso. Isso é, artisticamente, positivo.

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Porque gostamos de futebol


Muita gente não se conforma com o fanatismo que pessoas como eu têm em relação ao futebol. Ontem, no jogo Brasil x Chile, tivemos amostras do porquê disso. Depois de quase 90 minutos de futebol horrível, vimos essas duas obras primas. No 2o gol, genial, Robinho matou a bola já dando o drible da vaca; em seguida, quando o zagueiro da cobertura se aproxima pensando que ele continuaria na "correria", o atacante desacelerou, cortou para a esqueda e, no momento certo, aplicou o chute certeiro, de canhota (ele é destro). Isso é arte!

Ainda sobre o NoMínimo

Duas análises interessantes - e distintas - sobre o fim do NoMínimo: o Eduardo Carvalho numa visão bem empresarial das possíveis falhas na administração do site e o Pedro Doria (colunista do Link e NoMínimo) numa declaração que demostra uma parte da realidade: a Internet ainda procura sua forma de dar dinheiro.