sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

White Stripes, Icky Thump e a unanimidade burra

Boa parte da crítica do rock (isso existe?) quer nos enfiar goela abaixo que o novo disco do White Stripes, Icky Thump, é sensacional. Mas é um lixo. Querem que acreditemos que essa banda é o máximo. Não é. Com boa vontade, dá até para dizer que tem umas três ou quatro lampejos de boas canções. Mas, além de ser pouco pelo que é alardeado, são tão porcamente executadas que fica difícil ouvir. E avaliar Jack e Meg White como instrumentistas é como opinar sobre aquele seu sobrinho de 8/10 anos que tem aula de guitarra/bateira há uns seis meses. Ela tocando bateria é de uma infantilidade inacreditável. E já li que Jack White seria um virtuoso da guitarra. Lamentável... Mas, felizmente, não estou só contra essa porcaria branca e vermelha, nem serei inédito ao escrever sobre eles. O Mário Marques já escreveu aqui mesmo neste Digestivo o quão ridícula é a banda. Detalhe: há três anos. De lá pra cá, o endeusamento da dupla podre só aumentou. Lá estão observações importantes, principalmente como a "estética" (hein!?) punk predomina como exemplo a ser seguido e como uma certa turminha quer impor certos estilos e bandas como imprescindíveis. Leia mais...

sábado, 15 de dezembro de 2007

Um Bom Ano - Ridley Scott


Assiti "Um Bom Ano", de Ridley Scott, no começo de 2007 e revi novamente agora na TV. Não é um filme de roteiro ou enredo. Tem uma história batidíssima: um homem ambicioso (Max Skinner – Russel Crowe), arrogante, anti-ético e que não confia em ninguém trabalha no mercado financeiro de Londres ganhando milhões de Libras. Pelo falecimento de seu tio Henry (Albert Finney) tem de voltar a um lugar paradisíaco no qual passou grandes momentos de sua infância e lá reflete sobre seus valores encontra o amor de sua vida, uma bela moça que também tem problemas de confiança. Ambos enfrentam o problema de terem estilos de vida completamente diferentes. O final é obviamente feliz, num desfecho clichê, um dos mais babacas, rasos e sentimentalóides que já vi. Ainda assim, já entra na lista dos meus filmes preferidos.


Um grande diretor é capaz de fazer muito com pouco e acho que Ridley Scott conseguiu nesse filme. Não é só pela história e diálogos que se faz um filme, mas também pela fotografia, condução e montagem do mesmo, e é aqui que reside sua virtude. O diretor faz um belo contraponto entre o visual etéreo, monocromático, artificial do trabalho do personagem - um ambiente acelerado num cenário de designs modernos, corporativos, descartáveis e sem grandes contrastes - e o vinhedo francês que é quente, cheio de cores, cheiros, comidas de sabores distintos, com iluminação viva, tudo num ambiente contemplativo no qual cada canto, cada móvel tem sua história.

É o ponto alto do filme, pois mesmo sem se estar lá para comer, beber ou sentir os cheiros e o clima, é possível absorver isso tudo só assistindo. É o motivo de eu achar filme uma delícia. E o modo como são montadas as lembranças contidas na memória afetiva do personagem por meio de aromas, visões e sensações ajuda a dar um clima caloroso e aconchegante à película. Além das belas mulheres, claro.

São significativas duas seqüências: quando Francis Duflot (Didier Bourdon) diz que Henry afirmara que o sobrinho não era mais confiável porque havia perdido a capacidade de apreciar os pequenos prazeres da vida. E a da reunião final de Max com seu chefe, que se gaba de ter um Cézanne original, mas que fica guardado em seu cofre. O personagem de Crowe pergunta: “Quando você vê o quadro original”? O velho e infinito conflito "ter x ser".

Ainda que não seja um filme genial e tenha falhas, é despretensioso, toca em pontos interessantes e expressa muito bem uma gama diversa de sensações via imagens. Repito: já é um dos meus preferidos. É uma delícia.


quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Steve Vai - Bourbon Street - 06 de Novembro de 2007


No início do mês passado Steve Vai fez mais um ótimo show em São Paulo, no Bourbon Street. Apesar do palco ser baixo demais - quase não vi sua guitarra - foi sensacional vê-lo num lugar pequeno, só com fãs, podendo até ouvir instrumentos de forma quase "pura", sem o PA - por muitas vezes foi possível sentir a bateria, por exemplo.

Ele foi um dos heróis da minha adolescência e continuo gostando de sua música até hoje, embora com uma energia menor. É um fenomenal guitarrista e muito bom compositor - suas músicas são rocks vigorosos e muitas delas tem melodias, harmonia e estruturas próximas do pop, por serem bastante palatáveis, mas sem apelações. São raríssimos os guitarristas que conseguem ser tão expressivos com o instrumento - ele fala, chora, grita com ela. Há quem seja mais rápido, mais técnico, mais criativo, mais arrojado. Mas não há no rock quem fale por meio guitarra como ele.


É um músico de excessos.
Em certos momentos passa do bom gosto para o brega tanto em suas roupas e atuações quanto nas músicas. Talvez por ter surgido nos anos 80 e tocado com ícones de um rock mais pomposo - como David Lee Roth e Whitesnake - tem um lado farofa que às vezes extrapola. Mas faz parte de sua personalidade - é um showman. Na apresentação do Bourbon houve até espaço para esquetes de humor - que pareciam mais uma performance num cassino em Las Vegas do que um show de rock.

Mas, musicalmente, o show do Boubon não trouxe decepção. A banda é fora-de-série, quebrou tudo, quase trouxe abaixo o local, com peso, virtuosismo e swing na medida certa. O baterista Jeremy Colson tem uma pegada roqueira - que faz juz ao seu visual de cabelo espetado e tatuagens - mas sem perder o groove. Na guitarra de 7 cordas veio o ótimo Dave Weiner, que acompanha Steve há anos. Na turnê brasileira o baixo ficou a cargo de Philip Bynoe que deu um irresistível toque funkeado à banda. A banda também tem 2 violinistas que duelam entre si e dobram melodias da guitarra:
Alex DePue e a belíssima Ann Marie Calhoun, que arrancou suspiros dos marmanjos no recinto.

fonte

Steve Vai tem excelente presença de palco e domina a platéia, interagindo com ela via caretas, bom humor e uma boa dose de atuação. Põe a guitarra no chão e toca com o pé, finge tocar com a língua, dança, brinca com a platéias e com os músicos. Fez uma auto-ironia quando foi cantar e com uma letra que escreveu. Disse algo como "vou cantar, não importam o que vocês digam" para em seguida afirmar jocosamente que é um "artista" e que quer expressar sua "dor", que os presentes estariam lá para ver sua "dor". Para "expressá-la" teria escrito a letra: "Boom Shika-Boom Shika ba-ka-tu-ka (...)" presente na música "Firewall". É sempre bom ver um artista que sabe de seu potencial, mas também relativiza sua própria importância.

Foi ótimo rever músicas como "Tender Surrender", "All About Eve", "The Crying Machine" e ver pela primeira vez "Building The Church", "OOOO", "Now We Run" (a abertura), a louca "Freak Show Excess"e "Taurus Bulba" (o ato final do épico "Fire Garden Suite"). E, claro, não faltou o clássico "For The Love Of God".

Todas as fotos são de autoria de Charline Messa, via flickr

A abertura do show com "Now We Run":



E a seguir a performance de sua mais famosa música "For The Love Of God", no Bourbon: